A viagem

- Estação Rodoviária!
Mal aquela voz mecanizada e enfadada, pronunciou a última vogal, ele havia saltado do trem com seus pertences. Continuou seu trajeto em uma corrida desenfreada por entre a multidão que transitava pela estação. Bilhete na mão, um pedaço de papel que o faria embarca em uma viagem que não seria igual às outras.
Circundava o centro da estação em busca do ônibus marcado: “Box 54... 56... 57... 61... 64!”
Sim, havia chegado. Uma sensação de alivío o tomou ao ver rostos desconhecidos. Mesmo assim, lhe pareciam tão familiares. Despachou suas mochilas no bagageiro, apresentou o ticket, e embarcou com o restante da excursão que aguardava o horário de saída combinado. Era uma experiência diferente que experimentava: ser bem recebido por pessoas que lhe eram estranhas, com sorrisos e olhares agradáveis. Nunca havia sido assim.
Apertou a mão apenas de uma pessoa, com a qual havia se comunicado semanas antes. Fora um convite inusitado, mas algo lhe impelira a aceitar. Aceitara e lá estava. Sentado em um banco com dois lugares, recostado na janela, observava cada um dos passageiros. Tipos variados: sérios, engraçados, compenetrados, espontâneos, alegres, agradáveis, complacentes, simpáticos... Casais conversando alegremente, namorados entre afagos ao fundo do ônibus, amigos discutindo as últimas novidades da semana, o menino jovem ao canto escutando seu mp4, mãe e filha abanando para os parentes na plataforma da estação, outra mãe arranjando uma namorada para o filho à vista de uma futura nora dedicada, a garota simpática manobrando contra as investidas da dupla, família fazendo planos para a viagem e para as próximas que se seguiriam, outra garota checando seus pertences mais uma vez... as futuras personagens centrais de uma trama? Seria uma viagem interessante, pensou. Finalmente, relaxou em seu assento.
Não vira o ônibus deixar a estação. Sobressaltado, acordou no meio da noite após um solavanco muito forte. Demorou algum tempo até acostumar a visão à penumbra. Tentava imaginar em que região se encontravam, mas a estrada lhe era estranha. Achava que sua mente ainda estava entorpecida pelo sono. Não queria pensar, não queria raciocionar, nem racionalizar o motivo que o levou àquela viagem. Sempre achara uma coisa sem propósito e algo covarde fugir dos problemas. Mas, ele não resistiu às últimas investidas da sorte contra ele, acabou cedendo. Precisava de um tempo longe da loucura que se tornara sua vida, ou na qual transformaram sua vida. Orgulhoso demais para admitir seus erros e retroceder em suas escolhas, acabou se afundando em mais problemas.
Outro solavanco mais forte, o fez despertar de seus pensamentos. “Hummm, quantos burracos nesta estrada....”. Seguido, de mais uma guinada para a esquerda de modo estranho. Outro solavanco, e um estouro. Neste mesmo instante, o ônibus perdeu a direção, saindo da estrada. Meio inclinado, metade do ônibus era guiado fora da estrada, andando sobre cascalhos, pedras e buracos enormes. André, corre até a gabine para ver o que acontece, afinal era quem estava mais perto e acordado. Recorda seus pensamentos: “Não achei este motorista muito confiável, mesmo”.
A cena que se segue, lhe parece surreal: caindo sobre o volante, estava o motorista que parecia desacordado, segurado ainda em sua mão um pote com alguns comprimidos que agora jaziam pelo chão. Ao que lhe parecia ele havia sofrido de algum mau súbito ou utilizava de substâncias ilícitas. Em uma fração de segundos, apanhou com o olhar toda a cena e tomou uma decisão: tomar a direção. Mas, antes que pudesse controlar totalmente a situação, o ônibus perdeu mais uma vez o controle, passando por um buraco maior, desta vez o baque foi tão violento, que o arremessou para longe, jogando toda a força de seu corpo contra o vidro. Caiu inconsciente.

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