Vertigem

Vento no rosto. Um vento gelado cortando meu rosto... essa sensação de anestesia me faz sentir como se estivesse em algum outro lugar, longe das preocupações humanas. Porém, a velocidade do vento cala meus pensamentos e não deixa ouvir nada mais do que o zunido produzido pelo próprio vento desviando de meu corpo. Deixo que essas ondas de ar levem minhas angústias e dúvidas. Mas me engano. A cada passo que avanço tenho cada vez mais certeza de que escolhi a rota errada. Deveria ter ficado recolhida em meu canto, entre quatro paredes.
De novo, sinto aquela sensação estranha de que alguém me observa, me segue. Pergunto-me como? Em quilômetros não vejo ninguém. Exceto as aves que voam e arriscam manobras no ar. Passos, parece que ouço outro par de passos além dos meus. Olho em volta novamente: nada estranho, a não ser pelo tom levemente aroxeado que toma o céu.
Não sou rápida suficiente para ganhar uma corrida, mesmo sendo uma questão de vida ou morte, penso. Sensação tão estranha essa... certifico-me novamente. Não, nada por enquanto. Mas, o que espero encontrar em meu caminho? Realmente nada, além, de nada. Nenhum assaltante, nenhum assassino, nenhum “cereal killer”, nenhum psicopata, nenhum tarado, nenhum doido, sequer uma pessoa normal. Será realmente que nesse ermo me encontro longe de tudo e de todos? Por via das dúvidas, vamos reafimar o plano para alguma eventual emergência: correr o máximo que minha pernas aguentarem, correr até encontrar abrigo ou... alguma arma. Não esquecer de gritar “Fooooooogo!”, pois o bom e velho “Soooocoooooorroooooo” não salva ninguém da falta de cavalheirismo e coragem humana. “Fogo!”... todos possuem um espírito incendiário e uma queda para a tragédia, ainda mais sendo a alheia.
Malditos pensamentos pessimistas e trágicos que não saem de minha cabeça. “Concentra! Nada de mau vai te acontecer! Não agora. Não aqui.” Lá lará lalá lará lá lá.
Ouço passos novamente. Não, estou engana, são só coisas de minha cabeça! Lá lalá lará lalá lá lá. Caminho, só um pouquinho mais rápido. Sinto que algo está atrás de mim! Não corro ainda, só um pouquinho mais rápido. Sinto, sim! Uma presença atrás de mim. Não ouso virar, não ouso olhar. Só caminho o mais rápido que meus passos me permitem! Sim! Sinto que posso correr! Então, corro! Corro para me afastar daqui, corro para chegar o mais rápido a algum lugar, mas para onde? Corro, só consigo correr! É isso que sei fazer quando algo me persegue: correr para longe.